Ontem, eu vi uma colega comentando no facebook como o filho dela gosta do desenho da Peppa. Pra quem não conhece, o desenho é sobre a rotina de uma familia de porquinhos, a personagem principal é a Peppa, filha mais velha que deve ter em torno de 5 anos e conta a rotina de brincadeiras na vida da criança.
Parece muito bonitinho, não é mesmo? Então fui mostrar para o meu bebê e já no primeiro episódio que eu vi, eles passaram o desenho inteiro procurando os óculos do Papai Pig e quando encontraram, ele estava sentado em cima deles, então, eu ouço a Peppa se dirigir à seu pai: Papai bobinho.
Muita gente já argumentou comigo que esse jeito dela falar com o pai é "carinhoso".
Eu não concordei, mas, passadas algumas semanas, tentei dar outra chance ao desenho. Desta vez, além do "papai bobinho" que se repetiu, percebi que a Peppa faz graça com o "barrigão do papai".
É carinhoso, me falaram novamente.
Acontece que o papai não parece achar muita graça na "brincadeira carinhosa". Ele fala que não gosta que falem de sua barriga, mas a brincadeira continua, com a mamãe dando risada, também.
Vendo essas situações, eu me perguntei, quais os valores que estamos passando para os nossos filhos, diante de exemplos como esse?
Todos os dias nos deparamos com situações de desrespeito e falta de civilidade, mas parece que apenas nos importamos quando somos o lado prejudicado. Cada vez que se para onde é proibido "só por um minutinho", que se passa na frente dos outros numa fila, se esta perpetuando esse "jeitinho brasileiro", que nada mais é que o "tirar vantagem em tudo" amenizado por palavras mais bonitinhas.
Hoje, vejo que muitas crianças são tratadas como brinquedos engraçadinhos, os adultos parecem não se policiar no seu linguajar ou no seu comportamento perto delas. Se estão assistindo a um jogo de futebol, não hesitam em gritar palavrões contra o juiz. No trânsito, buzinam, usam e abusam da luz alta, e novamente, muitos palavrões. Diante de determinadas situações, exibem às crianças todo o seu preconceito, racista, homofóbico, de classes sociais.
Como serão, no futuro, essas crianças que crescem achando que tudo isso é o correto? Os pais, avós, cuidadores são os grandes exemplos para as crianças. Se os adultos fazem, é porque esta correto. E eu me pergunto, isso é o correto?
Por isso, voltando ao desenho da Peppa, eu acredito que há muitas outras formas de brincar com os pais, sem usar esse tipo de vocabulário, sem "ofensas carinhosas", sem fazer graça das condições físicas de cada um.
Se uma criança, com 5 anos, aprende que pode usar esse vocabulário com os seu pai, com a sua mãe, como você vai ensinar a ela que não pode mais usar essas palavras quando ficar mais velha? O importante, na educação, é a base. O uso carinhoso das palavras, a educação, o respeito, a civilidade, o caráter são formados desde bebê.
É por isso que, nunca mais, meu filho assistiu a Peppa, e eu estou ficando cada vez mais "chata" com a educação das pessoas que convivem com o meu bebê e com a minha, afinal, eu também falo uns palavrões de vez em quando.
Eu quero criar não apenas um bom filho, mas um bom homem, digno e de boa índole e para isso, preciso me empenhar desde já.